Uma semana bastaria

Dizem os livros sagrados que o Universo foi criado em sete dias. Raros os objetivos alcançados em tão curto período de tempo, ainda mais se dependentes do esforço de humanos. Os deuses jamais serão alcançados, mesmo se reservarem um dia para o repouso. Há coisas e obras, porém, que os homens podem realizar com espantosa rapidez. Porque nos sete dias bíblicos não terá faltado tempo ao Criador para dotar as criaturas do que se chama livre arbítrio. Em palavras pouco teológicas, apenas históricas, nada mais que a capacidade de discernir e fazer escolhas. Depois, apenas assumir as responsabilidades decorrentes das escolhas feitas. Da primeira parte - o discernimento - dá conta carta redigida pelo ex-Ministro da Saúde Henrique Mandetta, ontem apresentada à CPI e logo divulgada pelos media. No documento está contido todo o resumo de uma ópera nada lisonjeira para o destinatário da missiva, macabra para toda a sociedade, trágica para as famílias de mais de 400 mil mortos pela pandemia. Se há fundamentos para alicerçar o discernimento, ainda faltam evidências de que as decisões da Comissão manterão livre o arbítrio dos onze cavaleiros, do Apocalipse para os envolvidos; da Mancha, para os que teimam em alimentar esperanças. Tudo o mais que for apresentado à CPI do Senado jamais se igualará ao que, no primeiro dia de trabalho, os senadores puderam conhecer. A carta, datada de 20 de março de 2020, é como o registro de nascimento da tragédia pela qual vimos passando. Por ela, também, qualquer pessoa alfabetizada teria condições de prever o vínculo entre as ameaças do vírus e a conduta dos governantes. A opção, todos sabemos, foi pela tragédia., Que os responsáveis sejam chamados a pagar pelas consequências. Só então, haverá repouso.