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Foto do escritorProfessor Seráfico

Polícia e política

O Pará foi governado, de 1950 a 1954, pelo general Alexandre Zacarias de Assunção. Durante boa parte de sua gestão, divulgou-se que ele mesmo praticava o crime de contrabando. Para tanto, mantinha um sítio no distrito de Icoaracy (também, chamado Pinheiro), no local conhecido como Ponta Grossa. Lá, dizia-se, desembarcavam os veículos importados dos Estados Unidos da América do Norte. sem o pagamento de tributos. Circulavam em Belém vistosos e modernos carros de passeio, logo apelidados cutias. O apelido vinha do fato de que, desembarcados, os veículos atravessavam caminho de terra batida, em meio à floresta, até chegarem às ruas do distrito. Nunca se soube (eu, pelo menos) de mais que protestos dos opositores ou tímidas insinuações nas páginas de jornal. À época, a Polícia Federal, ainda fiel às técnicas e práticas de Filinto Muller, ocupava-se de reprimir o uso das drogas, não seu tráfico. Parte das ações da PF consistia em lançar do alto de seu edifício no Rio de Janeiro, usuários que caiam em suas mãos. A pena de morte aplicada ao gosto dos autoritários. Tudo muito diferente de hoje, quando a Polícia Federal supera a tentativa de impedir o cumprimento de seus deveres constitucionais e se entrega à busca da verdade. Às vezes ela chega reveladora de situação que configura o mesmo tipo penal em que o adversário de Joaquim Magalhães Cardoso Barata, também general, se enquadrava. Não mais vistosos e modernos automóveis; não mais carros escondidos sob as frondosas árvores de um local ermo. O objeto do crime, desta feita, resume-se a uma coleção de joias presenteadas pelo ditador de um país árabe ao colega que desgovernava o Brasil. Já não é de drogas (pelo menos, não só delas, se lembrarmos do avião retido em Sevilha) o tráfico, mas de peças em ouro (às vezes, falso), que os traficantes preferiram levar ao mercado dos Estados Unidos da América do Norte. Tudo, é óbvio, sem o pagamento de tributos e transportada a carga em mãos oficiais, os custos todos pagos pelo contribuinte brasileiro. Fundamental, parece-me, é estabelecer a diferença de atuação da Polícia Federal, ontem e hoje. Imaginemos, porque nada se paga para imaginar, se fosse cumprida a tentativa de submeter o órgão aos caprichos e desejos do ex-capitão excluído das forças armadas e tornado inelegível! Mais uma evidência, não fossem tantas as que a CPI constituída por convocação dos oposicionistas atuais tem revelado, do quanto seria atender aos propósitos do principal denunciado, sob o pretexto de impedir que f...sua família. Fica transparente a plena consciência daquela ex-otoridade dos atos praticados por ele e seus familiares. Motivo, como ele mesmo anunciou, suficiente para tolher a ação dos policiais. Enfim, polícia mais que política é a seara onde o líder e seus fanáticos se movimentam. Só nela eles conseguem prosperar.



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