Ainda está por aparecer o especialista que me convencerá da supremacia do mercado sobre as outras formas de administrar o bem público. Na Antiguidade chamado res publica. O discurso dos defensores da primazia das relações de compra-e-venda sobre todas as demais acabou por reduzir todos os sonhos e cálculos, governamentais e privados, à consideração de valores exclusivamente monetários. Nem diria econômicos, porque convencido - isto sim! - de que a Economia tem a ver com necessidades, sonhos e relações entre seres humanos, pessoas de carne e osso. Os robôs, uma invenção humana, vieram bem depois. Não faz muito tempo, dizia-se que o dólar dominaria o Mundo - e tal ocorreu. Com a mesma firmeza característica das coisas humanas, transitórias, a ponto de se desmancharem todas no ar. Na politica, essa dinâmica é comparada à das nuvens, cujo aspecto aparente não tarda a desfazer-se. Desde que a pólis passou a preocupar os pensadores, filósofos e analistas, governantes também, o governo foi visto como a forma de propiciar aos seres humanos reunidos em tribos ou sociedades, aquilo que, dada sua condição de animal superior, é legítimo desejar, reivindicar e lutar para tornar realidade. O bem-estar social, dizia-se no passado. Pouco claro, o conceito de bem-estar social se foi esboroando, até o ponto em que hoje está colocado. Aos governantes contemporâneos interessa mais o equilíbrio das contas públicas, tabelas e gráficos valendo mais que o ronco dos estômagos vazios e o vazio de mentes desligadas dos valores que tiram dos tais animais superiores tal condição hierarquizada. O que vemos, então, é imprecisão de conceitos que, não obstante, assumem a estatura de dogmas, tão religiosas quanto as seitas que os proclamam e manipulam. Às vezes, em nome de quem sempre fustigou a injustiça e por isso acabou morto na cruz. Marcado pela contradição e insuperavelmente ligado ao extremado e criminoso egoísmo, o capitalismo tem produzido, junto com a riqueza material de ínfimo grupo, a fome, a doença, a violência e a guerra. Dispensam-se mais que o noticiário e as informações que percorrem as redes em todo o Mundo, para comprovar essa trágica e inadmissível realidade. No entanto, os que fazem os ganhadores de sempre e eternos manipuladores das informações? Atribuem, por exemplo, a alta cotação do dólar às incertezas do deus mercado. Incertezas decorrentes do esforço aparentemente vão de inverter a ordem artificial das coisas, já que a Natureza não exige que uns vivam na abastança sem limite, enquanto outros nutram seus egos e seus estômagos da concentração das riquezas produzidas. A abastança de uns sendo condições materiais de vida reservadas a ínfima minoria, sendo a de outros a miséria material e a morte prematura - causada por enfermidades ou pela fome. Faz poucos dias, dizia-se que juros altos causam inflação; agora, pedem-se (os ganhadores de sempre) que seja contido o consumo dos mais pobres e miseráveis, para que a inflação não ganhe força. Aos pratos cheios de uns e ao vômito dos que ingerem tanto quanto exige sua gula, corresponde a inanição de outros, todos orando a um deus que se chama mercado.
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