O que é ser humano

Pensa-se ter visto tudo ou quase tudo, em termos de conduta humana. Muitos dirão que a boa-fé generalizada responde por muitas das frustrações que a realidade impõe. Com elas, a surpresa que toma as pessoas, mesmo se elas pensam ter vivido o bastante para tornar-se absolutamente céticas. A realidade, porém, desafia-nos a todo instante, cada dia vendo-se ultrapassada pelos limites antes conhecidos. Não fosse assim, já teria surgido a necessária resistência social às práticas (e aos valores, obviamente) características das elites brasileiras, instaladas no poder ou apenas tendo-as a seu serviço. Nos últimos anos, não há um só dia em que os limites da perversidade humana não se tenham revelado tão frouxos. Por isso, são facilmente extrapolados, encaminhando-nos na direção do abismo. Qual de nós teria imaginado o empenho das maiores autoridades da república, em multiplicar os maus efeitos de pandemia causada por um vírus? Terá passado pela cabeça de algum brasileiro a hipótese de perder seus entes queridos, seus amigos, seus pais, seus filhos, às vezes em veloz sucessão de dias e em escala tão numerosa? Menos ainda, imagino, terão cogitado da possibilidade de testemunhar inequívocas demonstrações de insensibilidade e desdém à vida humana. Lamentavelmente, tudo isso tem ocorrido. Difícil é admitir que alguém se sinta confortável diante de afirmativas capazes de pôr em questão a própria condição humana. É o caso das recentes declarações do sinistro da Economia, em relação ao desejo de viver dos idosos. Isso nos leva à dúvida sobre de onde procede um ser capaz de encarar a vida humana como a vê aquela autoridade. Se não é possível tê-lo como produto de fórmula que dispense um óvulo e um espermatozoide, no mínimo devemos questionar sobre a condição humana. Basta termos a aparência característica da maioria dos descendentes do pitecanthropus erectus, para sermos considerados humanos? Como Guedes, porém, muitos dos que habitam este país não têm mais que a aparência de humanos.