O cenário

Porque estejam cansados de análises pouco interessadas na realidade, ou fundadas em preconceitos cuidadosamente cultivados, alguns leitores pedem-me opinar sobre os próximos anos do Brasil. Uma espécie de exercício premonitório, que ninguém pode considerar a vida como ela será, apenas como ela é e mostra as estradas abertas. Estas, porém, não se garante que permanecerão; outras podem se abrir e toda sorte de alteração poderá mudar o seu desenho. No caso específico de que trato aqui, o próximo pleito eleitoral antecipado em quase três anos, algumas hipóteses podem ser levantadas. Todas elas sugerindo a realização de expectativas elaboradas com certo fundamento, embora nem todas sejam assim e não haja unanimidade na percepção dos observadores. Dado destacável no cenário com o qual convivemos hoje, 31 de julho de 2023, o alívio da maior parte da população brasileira é inconteste. Se é menos generalizada do que alguns gostariam que fosse, o sentimento da maioria dos brasileiros (os pobres, em especial) põe fé em melhores condições de vida material. Ainda que se possam transformar em pouco anos excluídos em novos consumidores, antes que em plenos cidadãos, agradam-nos políticas públicas postas em prática - ou revogadas as perversas políticas implantadas nos últimos quatro anos. Só o desmonte do processo autoritário antes em curso confere à maioria dos brasileiros a paz de que necessita toda sociedade, se deseja realizar-se como parte da humanidade. O desarmamento em vigor, se aprofundado e responsabilizados penalmente os que pretendiam transformar o Brasil em um grande faroeste, diz muito mais do que aparenta. Esse é um traço marcante do cenário que se altera com a rapidez necessária e todos torcem para que permaneça a atual disposição das autoridades públicas. Parece igualmente frustrada qualquer tentativa de imitar Benjamin Netanyahu e limitar a atuação do Poder Judiciário. Propósito formalmente proclamado e defendido na tragicômica reunião de 22 de abril de 2020, o projeto frustrou-se e virou pó, como

os atos terroristas de 08 de janeiro de 2023. Esses avanços na direção democrática, se ainda não alcançarão a drástica redução da desigualdade, são fator indispensável à caminhada nesse sentido. Por enquanto, para quase todos os setores da administração republicana têm sido propostas pelo Poder Executivo políticas que farão de cada brasileiro - numa primeira etapa - um novo consumidor. A garantia de todos os direitos de cidadania virá depois. Para isso é crível o convencimento da maioria do Congresso, cujas lideranças (as partidárias também) sentirão quanto seus próprios objetivos estritamente políticos serão contemplados, se passarem a servir aos eleitores, não aos detentores das chaves do Erário. Tais observações estão limpas de interesses individuais, muitas vezes divulgadas menos em defesa de interesses próprios pelos que se fazem porta-vozes bem recompensados de terceiros. Mais há que ser dito, depois de traçada a moldura atual, em que se pode efetivamente constatar a força da Esperança, em sua permanente luta contra o Medo e a Maldade. Meus poucos leitores podem esperar.