Palavras, por mais contundentes e agressivas, não conseguem por si mesmas desmentir o que a realidade apresenta à observação de seres inteligentes. Ou minimamente interessados nas causas coletivas. Desde que se instituiu, o projeto de pretenso desenvolvimento relacionado à zona franca se tem prestado às mais esdrúxulas interpretações. Desde aquelas que o veem como oportunidade de enriquecimento individual, até as que o hostilizam sem bases factuais. A insistência com que uns e outros operam, cada qual guardando para si o direito julgado inalienável de aproveitar-se tanto quanto possível da riqueza gerada, não produziu até agora mais que o desejo de explorar à exaustão tal modelo, antes que ele se renda ao célere e abrangente processo de globalização. A guerra fiscal entre as unidades federativas e o aprofundamento das desigualdades, sobretudo em nível regional, têm sido apenas atenuada, sem que se consiga impedir a perda de qualidade de vida da maioria da população. Essa mesma população de que se valem os supostos defensores de seus interesses, quase todos umbilicalmente ligados aos interesses responsáveis pela crescente desigualdade a que chegamos. Quase de 60 décadas decorridas, Manaus alçou-se a uma das primeiras posições, em termos de PIB municipal. Uma façanha a ser festejada, se nossos olhares não forem dirigidos à realidade em torno. Ano-pós-ano, o faturamento e o lucro da ZFM travestida de PIM apresentam-se vigorosos. A cada início de ano,. estouram os foguetes de regozijo. Quase coincidentes com a divulgação das reais condições em que sobrevive a maioria dos habitantes da capital amazonense, uma das mais pobres capitais. Na 23ª posição, melhor apenas que Porto Velho (o último lugar), Recife e Belém. O que tem sido feito da dinheirama produzida, do faturamento anual batendo recordes sucessivos? Qual o percentual da riqueza devida ao trabalho árduo dos trabalhadores (empregados, subempregados, terceirizados - precarizados todos), transformado em benefício aos moradores da cidade e seus arredores? Alguém um dia se deu o trabalho de apurar isso? Quem? Ou, em outras palavras, qual o órgão, público ou privado, se preocupou com isso? Para que servem os gestores municipais, estaduais e regionais, diante dessa contradição agressiva aos mais elementares conceitos de cidadania? E os parlamentares, o que têm feito, para gerar benefícios aos que de fato trabalham? O ano de 2026 dará mais uma oportunidade de expurgar da vida pública os que vivem de enganar o eleitorado. Não percamos tal oportunidade, pois a contradição já não pode ser tolerada. Pelo que tem de imoral, desumana, monstruosa.
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