A senzala brasileira continua a ser o pasto onde todas as carências, fragilidades, taras e nefastos objetivos da casa grande desembocam. Justifica-se, portanto, o uso da díade casa grande-senzala, para caracterizar as relações sociais que nos trouxeram até o momento trágico, sem perder a aparência burlesca que ele também ostenta. Nesse particular aspecto de nossa tragédia, não há como ignorar certas percepções, muitas vezes ditas como pilhérias, sem a perda de uma só grama do peso que têm no imaginário popular. Diz-se, aqui, que o Brasil é o único País em que a vítima do rufião por ele se apaixona e o traficante acaba viciado em drogas. Estes, apenas dois dos muitos exemplos que poderiam ser dados, para desenhar a realidade absurda com que lidamos em nosso cotidiano. Mesmo as posições mais influentes da República, pelas pessoas que chegam ao topo, são afetadas pela nossa versão da síndrome de Estocolmo. Tanto, que ministros da Economia e outros de seus mais influentes auxiliares e apoiadores mantêm contas bancárias e investimentos no exterior. Ainda bem que, situados no polo oposto, sem ter frequentado escola celebrada pelos acumuladores do Mundo, aparecem personalidades capazes de captar a realidade, enxergando muito além da superfície. Como Wálter Casagrande Júnior, ex-jogador de futebol e comentarista, recentemente entrevistado pelo UOL. Afirmativo como sempre o foi dentro das quatro linhas, o ex-jogador do Corinthians registra e acumula em sua história episódios de intensa participação política. Com Sócrates e Wladimir, Casagrande esteve na linha de frente da democracia corinthiana, momento de febril e comprometida atuação dentro do clube, provocando resultados e gerando esperanças que o tempo acabou por esmaecer, pelo menos na memória dos seus contemporâneos. Menos por qualquer erro ou equivoco dos líderes do movimento, mas pelo barro de que são feitos os futebolistas de hoje, mas íntimos das colunas sociais que das canchas esportivas. Enfim, a generosidade desse Casagrande é a antítese do estabelecimento que oprime e desqualifica a senzala. Menor e menos clara não é a percepção que Walter Casagrande tem dos problemas atuais do Brasil e do sofrimento imposto pelas elites à grande e esmagadora maioria da população. Quando estivermos próximos de jogar a toalha e abrir a porteira por onde passará a boiada com seu tropel esmagador, sempre será de bom aviso rever e ouvir de novo as palavras do parceiro de Sócrates em fase das mais felizes do futebol brasileiro.
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