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Foto do escritorProfessor Seráfico

Ainda bem

Leio no portal Sociedade Militar matéria atribuída a comentarista chinês que, à primeira vista, parece desagradar aos brasileiros. Diz ela que as forças armadas brasileiras são fracas, porque o orçamento das três - Exército, com 170.000 homens, Marinha e Aeronáutica, com os restantes 110.000 - tem 80% do valor total destinado ao pagamento de pessoal inativo. Quanto aos investimentos e à modernização de seu parque bélico, apenas 1,3% são destinados pelo Erário. O restante corresponderia às atividades regulares das três Armas. Até certo ponto depreciativo da eficácia e eficiência de nossas forças, quando tentam uma explicação para o que consideram apoio financeiro irrisório, os chineses apontam as razões disso. Todas elas aspectos de que nos deveríamos orgulhar. O primeiro deles diz respeito à ausência de conflitos ou situações hostis enfrentadas pelo Brasil, com seus vizinhos da América do Sul. Ainda não foi apagada da memória dos brasileiros a intenção de Jânio Quadros, que teria preparado um ataque à república da Guyana. Depois disso, se a memória me ajuda, nunca mais houve alguém que se atrevesse a ir tão longe. Mesmo a presença de nossas tropas no Haiti, com os resultados criticados por todos, não atendeu se não à solicitação da própria ONU. Era, pelo menos oficialmente, uma missão de paz. Nem o Haiti tem fronteiras com o Brasil, que leve a supor uma eventual revanche pelo que se diz ter sido a ação brasileira naquele país da América Central. Coisa ainda por apurar. Outra das razões apresentadas pelo comentarista chinês fala do desinteresse brasileiro em chegar ao topo da escada bélica, tanto o amor que tem à vida e à maneira alegre de vivê-la. Talvez porque a guerra enfrentada em seu cotidiano pela maior parte da população, pobre como se sabe, já lhe basta como ameaça permanente. Isso significa para o mais importante portal chinês (como o portal Sociedade Militar o diz) o absoluto desinteresse dos brasileiros e de seus governantes por tornar-nos uma potência militar. Desse ponto de vista, nada mais lisonjeiro. Reconhecida - cada dia menos, convenhamos - como uma sociedade alegre e hospitaleira, e dispondo de farto estoque de recursos naturais, nosso mais poderoso e ameaçador inimigo a combater é a desigualdade. Portanto, não são revólveres ou canhões as melhores e mais adequadas armas a usar. Se formos capazes de manter forças que ajudem a combater esse mal, já nos terá bastado. Há várias frentes em que essa guerra pode ser desenvolvida, entretendo nossas tropas. Seja nas fronteiras e no combate ao tráfico de toda ordem que por ela transita; seja no desmonte dos negócios irregulares ou criminosos que operam na floresta e nas áreas de mineração; seja ainda na prevenção de atos terroristas como os que tiveram seu clímax em 08 de janeiro, muitas serão as guerras a enfrentar, dispensando nossos vizinhos e o resto do Mundo de qualquer ameaça. Sem a probabilidade de toda guerra, seria dispensável a existência de forças armadas. Discernir entre a boa e a má guerra, portanto, é a questão.

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