Durante boa parte da minha vida ativa como professor da UFAM, comecei cursos de Comportamento Humano na Organização com a projeção do filme Tempos Modernos. Encontrei nessa que considero uma das mais importantes obras cinematográficas de todos os tempos, material didático da maior relevância. No filme, o genial Charles Chaplin mais uma vez faz portador de sua visão de mundo talvez a mais marcante das figuras da literatura e do cinema, Carlitos. No final da década dos 1980 e na década dos 1990, os alunos eram despertados para os problemas gerados e impactados sobre a conduta dos trabalhadores. E dos que os põem a trabalhar em prol de benefícios para terceiros. Tem sido sempre assim, desde que o mundo se dividiu entre os que tudo têm e tudo desejam versus os que nada têm – a não ser sua força de trabalho – e a nada podem aspirar. Assim tem sido, e cada dia parece mais distante o momento em que tal realidade será total e irreversivelmente superada. Por isso, vez por outra volto a assistir à vigorosa denúncia do ator e diretor britânico, que teve a felicidade e ostenta o honroso galardão de ter sido expulso dos Estados Unidos da América do Norte. Ou apenas impedido de para lá voltar. Pois bem. No filme produzido por Chaplin em 1936, sempre que volto a vê-lo descubro aspectos e cenas sugestivos de novas interpretações, frequentemente despercebidas nas audiências anteriores. Por mais cuidadosas e atentas, estas não esgotaram a rica fonte de que o filme é portador. Talvez a premência de tempo de que só os professores de ofício podem dar testemunho não se compare com a liberdade de que gozamos os aposentados, tidos para uns como vagabundos (apud FHC) e inativos (como os denominam os órgãos oficiais). O fato é que, tendo diante de mim as cenas de Tempos Modernos, no exato momento em que o Brasil ameaça efetivar reforma tributária dormente durante mais de 30 anos nas gavetas do Congresso, veem-me à mente novas observações, nenhuma delas capaz de revogar os juízos de valor e a ilustração da realidade que Charles Spencer Chaplin trouxe às telas. Ainda agora, comparo a máquina de alimentação mostrada no filme aos avanços tecnológicos que provocam o desemprego e só fazem aumentar os níveis de acumulação do capital. Ao mesmo tempo em que aumentam o sofrimento de todos - uns, porque cada dia se torna mais difícil satisfazer suas mais urgentes e fundamentais necessidades, aquelas que Maslow considerava primárias. A sobrevivência, se quisermos mais síntese! Outros, enfastiados da própria vida, tornada rotina insuperável, ainda que geradora de extraordinária e agressiva riqueza material. Enfim, uma vida em que o sonho tenta fazer do gênio humano o supridor de respostas desafetas do próprio sentimento de humanidade. Como o suicídio dos biliardários, à guisa de testemunhar os restos de outra catástrofe- o naufrágio do Titanic. Coitados! Ensimesmados em seus caprichos vãos, os indivíduos que põem a acumulação do esterco da sociedade (dizia-o São Basílio) como seu deus único e adorado, buscam no fundo - não de si mesmos - mas dos mares, a felicidade que não foram capazes de conquistar. Cada dia fica mais evidente a sabedoria que fez Chaplin dizer faltar sentimento à sociedade humana(!). Ele hoje repetiria sua sentença
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