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A Crítica entrevista Marcelo Seráfico*

Foto do escritor: Professor SeráficoProfessor Seráfico

1.      Que ambiente político e social brasileiro tem causado esses ataques e atentados?

MS: A principal característica do ambiente político brasileiro desde 2014 é a organização e expansão de forças sociais de extrema direita, particularmente aquela representada pelo ex-Presidente Jair Bolsonaro. Esse extremismo tem como um traço central a rejeição da democracia como modo de regulação dos conflitos sociais e a defesa do autoritarismo e de perspectivas que criminalizam e demonizam todas as demais forças das quais discordam e que qualificam como inimigos a serem eliminados. Tudo isso pode ser identificado objetivamente em diversas manifestações públicas do senhor ex-presidente e de muitos de seus seguidores, assim como em fatos como o 08 de janeiro de 2023, o assassinato de eleitores de Lula (no PR e na BA, por exemplo) e em medidas propostas, e às vezes aprovadas, por parlamentares no Congresso Nacional e nas diversas Câmaras e Assembleias Brasil afora. Portanto, esse ataque é parte de um quadro maior no qual a violência é estimulada e aprovada como prática política.


2 . De que forma a polarização no país influenciou no aumento de casos como esse?

MS: Não creio ser correta a ideia de que vivemos uma polarização. O que vemos é o extremismo de direita inventando, fabricando um polo que, de fato, não existe, que seria uma extrema esquerda. Sem essa fabricação, esses movimentos da extrema direita não teriam como transformar as frustrações, ressentimentos e insatisfações de parte da sociedade em animosidade, ódio e violência. Portanto, o discurso da polarização é uma das táticas da extrema direita para justificar o uso da violência como prática política normalizada.


3.  Do ponto de vista social, a tendência é que esses comportamentos antidemocráticos permaneçam por mais tempo? qual seria a solução do país para isso?

MS: O que parece evidente é a disposição de pessoas e grupos de agir violentamente para alcançar fins políticos. Ou seja, a extrema direita tem no terrorismo uma de suas formas de ação política e vem fazendo uso sistemático dela, desde antes da eleição do ex-presidente. As únicas formas de coibir essa prática é através, de um lado, a punição, nos termos da lei, de todo e qualquer indivíduo que milite contra o Estado democrático de direito e que pregue a eliminação física e política daqueles de que discordem. Em segundo lugar, é necessário o engajamento dos meios de comunicação, escolas, igrejas, instituições de ensino superior etc. em debates e práticas democráticas e democratizantes. Isto é, para além de uma palavra de ordem e de um processo identificado apenas com as eleições, é preciso vivermos a democracia em todas as instituições de que fazemos parte e que nos constituem como pessoas e cidadãos.

Em terceiro lugar, é preciso liquidar com as causas que levam tantos a esse extremismo de direita, é preciso combater as origens do ressentimento, dos preconceitos, frustrações e insatisfações que levam a ele. Em outras palavras, é preciso combater as desigualdades sociais e a alta concentração de poder econômico e político que permite, inclusive, a manipulação do debate público e a proliferação de mentiras como forma de mobilização dos afetos.

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*Entrevista concedida pelo sociólogo e professor da UFAM, ao diário A Crítica, de Manaus.

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