Esta é a semana em que o governo apresentará à nação o que o Ministro Fernando Haddad chama arcabouço fiscal. Outros, às vezes ele mesmo, também usam a expressão âncora fiscal, e, suspeito, intencionalmente. O Estado de terra arrasada encontrado pela atual administração federal objetiva, sobretudo, evitar o naufrágio calculado e desejado pela equipe que a antecedeu. O noticiário todo dia inclui o indício de que os últimos dias do ex-capitão, se não se comparam aos de Pompéia, deixaram chamuscada a esperança de milhões de famílias brasileiras. O descaminho de que milionárias jóias são objeto é apenas um, dos muitos atos esclarecedores do naufrágio iminente. O 8 de janeiro e os protagonistas dele, ostensivos ou obscuros, também não lograram pôr o barco a pique. Ainda não alcançada a primeira centena dos dias de trégua concedidos a todos os governantes - menos a Lula, já se conhecem decisões absolutamente coerentes com as promessas de campanha. Que o digam os beneficiários, certamente os situados na base da pirâmide da riqueza. Não é deles, portanto, que procede a intolerância; nem vêm deles as previsões pessimistas. É certa a complexidade dos problemas com que lidam as autoridades da Economia. Mais ainda, quando ocupamos posição de liderança no vergonhoso ranque da desigualdade. Como o dinheiro não estica, vinculada a metáfora de sua elasticidade à conduta dos indivíduos, qualquer decisão destinada a reduzir a concentração da riqueza afetará diferentemente os dois polos - os que acumulam e os que mal sobrevivem. Só dos primeiros, portanto, pode ser exigido pagar as contas. Ou, para caber na expressão, fornecer as âncoras que manterão o barco flutuando. Até a próxima sexta-feira, os brasileiros saberemos qual a quantidade de boias salva-vidas necessárias à nossa sobrevivência. Em especial à dos que já têm a água a entrar-lhes pelas narinas.
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A pandemia e a guerra na Ucrânia têm pretextado decisões e ações governamentais em grande medida inadequadas. À parte os interesses em jogo, ainda concorrem para dificultar o exercício de mandatos executivos e legislativos práticas pouco afeitas à democracia. Nestas, contudo, há a tradição de conceder pouco mais de três meses aos governantes, antes de ser feita a primeira avaliação de duas açôes. Uma espécie de trégua, que não só representa o grau de tolerância dos governados, quanto dá àqueles a tranquilidade necessária à fixação dos rumos a seguir. Quando, como no Brasil do Tripresidente, o país que ele encontrou revela situação de terra arrasada, os problemas se ampliam, aprofundam e tornam maior o desafio a enfrentar. Mesmo assim, esse - digamos - direito não foi concedido a Lula. Até jornalistas aparentemente simpáticos ao Presidente perderam cedo a paciência. Desde os primeiros dias de 2023, a gestão de Lula vem sendo posta à prova. Decorridos menos de 80 dias, desde que subiu pela terceira vez a rampa, a impressão que o desavisado colherá é a de que o governo acumula fracassos e equívocos que nem de longe podem ser atribuídos ao Tripresidente. A começar pelas chantagens de Arthur Lira e o centrão, que têm feito reféns todos os governos. Em nome de uma tal - e falsa - governabilidade, os segmentos hostis à redução - porque superação não é sonho para cem dias, talvez para 100 anos - reclamam porque se sentem ameaçados. A ganância desses segmentos não se volta apenas à manutenção de seus privilégios, porque pretende de fato fazer-nos retornar ao Brasil antes de 1888. Senhores de escravos e seus capitães do mato não deixam governar qualquer que deseje cumprido o artigo 3° da Constituição. Por isso, ficam sem o período de tolerância Lula e tantos mais que quiserem uma nação menos injusta e desigual.
O general-ditador Ernesto Geisel dizia que nações não têm amigos, têm interesses. Graças a essa percepção, ele foi o último dos governantes do período da ditadura em investir pesadamente na indústria e na infraestrutura brasileira. Depois, olhos postos no mercado internacional, Lula foi docemente persuadido por lideranças da indústria nacional, a entrar pesado na exportação de produtos e tecnologia brasileiras. Cuba, Venezuela, Angola, Moçambique, e uns poucos mais países tomaram empréstimos no Brasil. Cumprindo a prática desse tipo de negócio, as grandes empresas brasileiras, empreiteiras muitas delas, foram as maiores beneficiárias da exportação, tornando-se inclusive multinacionais. É assim que funciona, em quase todos os países exportadores. Essas particularidades, todavia, são ocultadas mesmo por profissionais que se têm apresentado como economistas, financistas, especialistas em relações internacionais, jornalistas etc. Interessa-lhes apenas atribuir vínculo entre Lula e países governados pela esquerda. Mesmo se seus gurus, mitos e líderes endeusam países em que a ditadura é o regime e, além disso, recebem presentes como os que a Arábia Saudita teve o desprazer de saber retidos pela aduana brasileira, no aeroporto internacional de Guarulhos. Nada a admirar, quando as narrativas cada dia se tornam mais distantes dos fatos a que se relacionam, ou que as pretextam. Tempos em que a mentira passa por verdade, monstros posam de santos, predadores de todo tipo aparentam generosidade, arrogantes fingem-se humildes. A autorizar os menos afoitos a ver nos cenhos cerrados o contrário do que pretendem os que os ostentam. Neste caso, não expressam o grau de indignação; ao contrário, mostram até que ponto vão a insensatez e a zombaria de seus portadores.
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